Aparente segurança
e independência afetiva pode esconder medo de sofrer numa relação convencional
Imagem:
GOOGLE
Os seres humanos são, por natureza, um tanto quanto possessivos,
sobretudo quando se trata de relacionamentos afetivos. Porém, a posição de
amante em um triângulo amoroso contradiz essa tendência, afinal, como alguém
consegue dividir seu amor com outra pessoa?
No último artigo, refletimos sobre o amor platônico -
a paixão por uma pessoa inalcançável, o amor impossível de ser concretizado,
aquele que escolhemos viver de maneira idealizada dentro de nós mesmos, em
nossas ilusões. Se pensarmos bem, o papel de amante guarda um quê de amor
platônico, afinal, ainda que seja uma relação vivenciada no mundo real, possui
esse caráter incompleto, dividido, não exclusivo, representado pelo namoro ou
casamento em que o outro está.
LÓGICA DO AMANTE É A MESMA DO PESSIMISMO
A necessidade de um amor concreto obviamente nos atrai para vivê-lo,
porém, inseguranças pessoais como medo de rejeição e abandono nos impulsionam a
fugir das relações, criando uma batalha entre forças contrárias dentro de nós:
o desejo genuíno do amor e o medo de nos entregarmos a ele. No entanto, mesmo
com medo e vontade de fugir da rejeição, vivenciamos justamente uma situação
que nos coloca mais perto daquilo que tememos. É o meio do caminho entre um
extremo e outro: viver um amor platônico, presente apenas na ilusão de quem
ama, e experimentar um amor real, assumindo livremente uma relação. Mas por que
escolheríamos ficar no meio do caminho?
Viver uma relação cuja probabilidade
seja mais definida, mesmo que baixa, pode ser inconscientemente mais seguro do
que apostar em um relacionamento afetivo sem impedimentos. É como se nos
sentíssemos mais confiantes ao entrarmos preparados para o pior - afinal, se
algo ruim acontecer, pelo menos nós já esperávamos por isso, de alguma forma.
Um exemplo no âmbito material seria uma enorme vontade de ter mais dinheiro,
mas escolher a opção de ter pouco, pelo medo de perdê-lo ou não conseguir
conquistá-lo."Um exemplo no
âmbito material seria uma enorme vontade de ter mais dinheiro, mas escolher a
opção de ter pouco, pelo medo de perdê-lo ou não conseguir conquistá-lo."
Não queremos que falte dinheiro, mas isso se torna mais confortável do
que enfrentar uma perda financeira ou o fracasso de sequer ganhá-lo.
De forma semelhante, o papel de amante pode significar a escolha por uma
posição que não nos oferece tudo que desejamos, mas que em compensação
representa menos riscos no âmbito emocional. O fato de que algumas pessoas
afirmam ser o suficiente, sentindo-se bem como amantes, provavelmente ocorre
porque não é preciso admitir o medo em torno disso.
BAIXA AUTOESTIMA E CONVENÇÕES SOCIAIS ENFRAQUECEM DESEJO DE VIVER AMOR
PLENAMENTE
A baixa autoestima pode nos fazer duvidar de nós mesmos, da nossa
capacidade e do merecimento de viver uma relação afetiva plena. Por causa
disso, não conseguimos enfrentar nossos medos e, consequentemente,
enfraquecemos o nosso poder pessoal, pois reforçamos a convicção de que jamais
poderemos superá-los. Isso diminui ainda mais a autoestima, pois nos condenamos
pelo fracasso diante de tais medos, e assim por diante. Acabamos por entrar em
uma espiral negativa, pois passamos a duvidar cada vez mais de nossa força,
castigando-nos por não conseguir encarar a dor da rejeição ou do abandono.
Outro ponto é a força desse medo; ele pode ser bem mais forte do que o
desejo de viver o amor. Claro que, na maioria das vezes, tudo isso acontece sem
que percebamos. Inconscientemente, carregamos muitas crenças que surgem quando
testemunhamos traições, que por sua vez desencadeiam as convenções sociais
"homem não presta", "casamento é uma prisão",
"relacionamentos são pesados e problemáticos" e "amor é
sofrimento", entre muitas outras que vão se acumulando em nós.
Isso se contrapõe ao nosso desejo genuíno de viver o amor com plenitude,
o que se reflete nos relacionamentos afetivos na forma de orgulho, inseguranças
e atitudes defensivas e até mais agressivas, além de outras distorções em nossa
maneira de nos relacionarmos.
TRABALHAR AUTOESTIMA E PODER PESSOAL AJUDA A VENCER MEDO
Todo esse conjunto de sensações pode
prender-nos em uma armadilha, deixando-nos impotentes na posição de amante.
Achamos que o que nos aprisiona é o triângulo amoroso, mas o que realmente
prende é o medo, construído por memórias negativas que geram padrões de
comportamento. Assim, o único meio de harmonizar tal questão - ou qualquer
outro problema na vida afetiva - é justamente superar esses medos. E enquanto
não fizermos isso, nossa vida nos trará justamente situações que nos confrontem
com eles, nos desafiando a encará-los e vencê-los. Isso pode parecer
assustador, mas, se pensarmos bem, é algo bastante encorajador, pois a vida nos
traz continuamente oportunidades de sair deste caminho de enfraquecimento para
entrar em uma espiral positiva de fortalecimento."a vida nos traz continuamente oportunidades de sair deste caminho de
enfraquecimento para entrar em uma espiral positiva de fortalecimento."
Tudo depende da nossa consciência e escolha diante das situações. Ou
seja, não será por falta de oportunidades que não seremos felizes!
Para trazer resolução e sedimentar nosso caminho afetivo de maneira mais
positiva, é preciso que vençamos o medo e nos tornemos mais forte que ele.
Sendo assim, para lidar com o papel de amante e mesmo vivenciar qualquer
relação de forma mais plena e saudável, é imprescindível trabalhar a nossa
autoestima e o nosso poder pessoal.
SOBRE O AUTOR:CECI AKAMATSU
Terapeuta acquântica, faz
atendimentos presenciais no Rio de Janeiro, em São Paulo e à distância. É a
autora do livro Para que o Amor Aconteça,
da Coleção Personare. Saiba mais »
REVISTA PERSONARE
Nenhum comentário:
Postar um comentário