por
Jorge Luiz Hessen
Quando
nos perguntam por que a vida é tão difícil e às vezes tão amarga, relembramos o
Evangelho Segundo o Espiritismo que explica essa sensação pode ser uma aspiração
à felicidade e à liberdade e que, preso ao corpo que nos serve de prisão,
extenuamos em vão esforços para dele sair. Todavia, lamentavelmente alguns
prostram no desencorajamento, e a todo o instante aguçam as lamúrias. É mister
resistir estoicamente a esses desalentos e desesperanças, porque as aspirações
para a felicidade plena são inatas a todos nós, mas, obviamente não as
procuremos nessa vida transitória da Terra.
Ressalta
o Espírito François de Geneve[1] que precisamos cumprir, durante nossa prova
terrena, tarefas e compromissos que não suspeitamos, seja no que tange à devoção
à família, ou cumprindo diversos deveres que Deus nos confiou. Se no transcurso
dessa experiência, no desempenho das tarefas, observamos os cuidados, as
inquietações, os desgostos esmagarem nossos ânimos d’alma, sejamos fortes e
corajosos para os derrotar. Avancemos e arrostemos destemidos; pois que elas [as
aflições] são de curta duração e devem nos conduzir para situações bem melhores
no futuro.
Porém,
precisamos analisar sob outro enfoque quando as amarguras podem ter suas origens
na infidelidade aos compromissos cristãos, daí a melancolia se instala em nosso
ser, o que resultará numa obsessão ou brechas para as perturbações
espirituais.
A
propósito dessa obsessão, etimologicamente o termo tem a sua origem no vocábulo
obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição,
vexação.
Para
muitos estudiosos espíritas a obsessão é interpretada como um verdadeiro flagelo
mundial. Essa visão se reveste de profunda gravidade na sociedade, atualmente
bem instrumentalizada tecnologicamente, seja no campo das comunicações e
informática e outras áreas do conhecimento científico, ampliando e aprofundando
as responsabilidades de cada um em face da vida coletiva.
Aurélio
Buarque (dicionarista) define obsessão como preocupação com determinada idéia,
que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos
recalcados; idéia fixa; mania. [2] Da mesma forma a terminologia obsessão é
usada, vulgarmente, para significar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso,
gerador de manias, atitudes estranhas etc. Porém, sob o enfoque espírita o termo
tem um significado e interpretação mais amplo. Ou seja, consubstancia-se numa
influência maléfica relativamente persistente que espíritos desencarnados e/ou
encarnados, tão ou mais atrasados que nós podem exercer sobre a nossa vida
mental.
Muitas
vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição,
adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior
ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se vêem possuídos, uns
à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios
tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos,
suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte. [3]
A
obsessão espiritual é sintonia ou troca de vibrações afins. Allan Kardec define
obsessão como a ação persistente que um Espírito inferior exerce sobre um
indivíduo, apresentando caracteres variados, que vão desde a simples influência
moral [sem sinais exteriores perceptíveis] até a perturbação completa do
organismo e das faculdades mentais. Ou seja, a obsessão é o encontro de forças
inferiores retratando-se entre si. Importa lembrar nessa circunstância que há
quadros de obsessões explodindo por todos os lados em todos os níveis, quais
sejam de desencarnados para encarnados e vice-versa; de encarnados para
encarnados, bem como dos desencarnados para desencarnados.
Nosso
mundo mental rege a vida que nos é peculiar em todas as suas dimensões, contudo,
nos encontramos ainda no início do entendimento das implicações da força mental,
do significado e abrangência das construções mentais na vida. O pensamento
exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os
objetivos que se propõe atingir. Quando benigno e edificante, ajusta-se às Leis
que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e
deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental vive na base de todas
as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática
com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.[4]
Nosso
mundo mental é como um céu, mas, do firmamento descem raios de sol e chuvas
benéficas para a vida planetária, assim como no instante do atrito de elementos
atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas destruidoras. Da mesma forma
funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e
restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas, quando
perturbada, emite raios magnéticos de alto teor destrutivo para nossa estrutura
psíquica.
Allan
Kardec redargüiu dos Espíritos, na questão 466, d’O Livro dos Espíritos, por que
permite Deus que os obsessores nos induzam ao mal? - Os Benfeitores explicaram:
"Os Espíritos imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a
constância dos homens na prática do bem. Como Espírito, deveis progredir na
ciência do infinito, razão por que passais pelas provas do mal, a fim de
chegardes ao bem. Nossa missão é a de colocar-vos no bom caminho e, quando más
influências agem sobre vós é que as atraís, pelo desejo do mal. Os Espíritos
inferiores vêm em vosso auxílio no mal, sempre que desejais cometê-lo; e só vos
podem ajudar no mal quando quereis o mal. Então se vos inclinardes para o
assassínio, tereis uma nuvem de Espíritos que vos alimentarão esse pendor.
Entretanto, terás outros que procurarão influenciar-vos para o bem. Assim se
restabelece o equilíbrio e ficais senhor de vós mesmos." [5]
Kardec,
em O Livro dos Médiuns, diz que "as imperfeições morais dão acesso aos
obsessores e o meio mais seguro de nos livrarmos deles é atrair os bons
espíritos pela prática do bem”.[6] A obsessão é impotente diante de espíritos
redimidos! E o que é um espírito redimido? É aquele que reconhece as suas
limitações e, como enunciado pelo apostolo Paulo, sente a alegria de saber-se
"matriculado na escola do bem".
Em
síntese, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da
invigilância e dos desvios morais. Para garantir-nos contra a sua influência
urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos
códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo.
[1]
Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB,
2001 cap.V, item 25
[2]
Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e
Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0
[3]
Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: Ed FEB,
2001, Cap. Dominação Telepática
[4]
Idem
[5]
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos gb., 2003, perg. 644
[6]
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1998
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