Saiba usar a
dificuldade como um impulso de real transformação
Lidar com a crise
econômica no Brasil é algo do qual não conseguimos escapar atualmente. Sejam
pelas publicações na internet ou nas revistas, ou pelas conversas à nossa
volta, a verdade é que onde quer que estejamos, o assunto parece inevitável.
Ainda que tenhamos o desejo de nos manter otimistas, quando nos damos conta já
estamos fazendo coro às reclamações e lamentações. Tomados pela revolta e
angústia, sentimos aquele frio na espinha: o medo diante das ameaças que a
crise nos traz.
Olhamos à volta e constatamos que os fatos parecem só reforçar as
dificuldades e as impossibilidades. Então, como enfrentar um quadro tão
desanimador?
NÃO HÁ MUDANÇA SEM TRANSFORMAÇÃO INTERNA
Somos todos constituídos não só pelo nosso corpo físico, mas também
pelos nossos aspectos emocionais, mentais e espirituais. Sendo assim, nossa
realidade coletiva é representada pela união de nossos conjuntos individuais em
todos esses níveis.
Dentro da realidade coletiva, temos nossa dimensão emocional coletiva,
que é representada fisicamente pelo conjunto de tudo que somos e criamos
individualmente neste âmbito, ela engloba nossas estruturas e padrões
emocionais individuais. Já nosso mental coletivo é o resultado da soma de
nossos padrões e modelos mentais, de ideias e pensamentos pessoais. Por fim,
nosso espiritual coletivo é o resultado final da maneira como cada um de nós
acessa e lida com o sagrado em nossas vidas.
Por outro lado, existe a realidade coletiva física - que é mais fácil de
ser percebida, pois lidamos com ela de maneira mais direta e concreta, mas não
temos a mesma clareza para os aspectos mais sutis. Como um conjunto, criamos
uma "atmosfera" emocional, mental e espiritual. Se as partes que
compõem essa atmosfera não se encontram harmonizadas em si e entre si, ela pode
se tornar nociva.
Por exemplo, todo mundo já deve ter tido a experiência de estar perto de
alguém que "exala" pensamentos e sentimentos negativos e que não
respeita a própria sacralidade, que não tem um respeito pela existência. Não é
nada agradável, certo? Sentimos um peso, algo ruim que nos faz querer estar
longe da pessoa. Mas, se por outro lado, entramos na mesma sintonia que ela,
alimentamos uma dinâmica em que um reforça o "negativo" do outro, de
maneira que os dois saem negativamente fortalecidos para "contaminar"
outras pessoas que estejam enfraquecidas nos níveis sutis.
Não precisamos ter medo dos pensamentos e sentimentos negativos, como os
trazidos pela ideia da crise, por exemplo (veja aqui 4 dicas para interromper pensamentos negativos). Afinal, não há
como não sentir ou pensar de maneira "negativa". Assim como uma
doença física nos avisa que algo não está bem na saúde e precisa ser olhado com
mais atenção, os pensamentos e sentimentos negativos trazidos pela crise também
nos avisam que algo não vai bem e que precisamos estar mais atentos aos nossos
aspectos emocionais, mentais e espirituais."Assim como uma
doença física nos avisa que algo não está bem na saúde e precisa ser olhado com
mais atenção, os pensamentos e sentimentos negativos trazidos pela crise também
nos avisam que algo não vai bem e que precisamos estar mais atentos aos nossos
aspectos emocionais, mentais e espirituais."
ESTEJA NO MUNDO, MAS NÃO SEJA O MUNDO
Para transformar a realidade física de maneira efetiva é preciso também
mudar nossa realidade mais sutil, no nível emocional, mental e espiritual. Sem
isso, ainda que as mudanças aconteçam no nível físico, a tendência é que a
mesma situação volte a ocorrer ou que algo na mesma qualidade se repita,
afinal, a realidade não foi transformada em sua totalidade.
Esta questão me faz lembrar um programa de TV em que se falava sobre o
reassentamento de moradores de comunidades carentes em instalações mais dignas.
As condições precárias das moradias da favela foram substituídas por conjuntos
de edifícios com uma estrutura mais decente e organizada do que os barracos.
Porém, em pouco tempo o visual já mostrava o retorno daquela desorganização e
precariedade anterior. As pessoas "reconstruíram" a favela na nova
estrutura. O comentário que ficou em minha cabeça foi: "tiramos as pessoas
da favela, mas não a favela das pessoas!".
Isso aconteceu porque a estrutura interna daquelas pessoas - emocional,
mental e espiritual - recriou de alguma forma a realidade física anterior,
justamente aquela que elas mesmas não queriam para si, por mais contraditório
que isso pareça. Os moradores não percebiam que aquela estrutura desagradável à
sua volta era de alguma maneira construída pela realidade interna deles mesmos.
É nesta situação que se torna mais fácil culpar a vida pela falta de oportunidade,
o governo pelo descaso, os vizinhos por agirem errado. Isso tudo de fato pode
até acontecer. Mas, antes de tudo, ocorre principalmente porque cada um
contribui, mesmo sem perceber, para isso. Seria preciso uma mudança interna das
pessoas para que a transformação da realidade de fato tomasse forma.
QUAL O DESAFIO DOS BRASILEIROS DIANTE DA CRISE?
Da mesma forma, hoje, como um país - e não como uma comunidade apenas -
precisamos transformar nossas realidades individuais internas para que possamos
construir uma realidade diferente em nível coletivo. O primeiro passo para isso
é justamente saber trabalhar a raiva, a revolta, a indignação, e não se focar
tanto no jogo de culpados. O objetivo é trazer a nossa reflexão para dentro de
nós e buscar em nossa realidade individual de que forma estamos contribuindo
para alimentar estes sentimentos e pensamentos.
Ainda que de fato existam todas as situações e condições externas
negativas, se ficarmos presos a elas, deixamos de dar o primeiro passo para
mudá-las. Então, diante das reclamações e lamentações lá fora, ao invés de
colocar mais lenha na fogueira e reforçar ainda mais a energia negativa do
momento, que tal olhar para dentro de si e refletir sobre a sua participação
neste contexto?"Então, diante das
reclamações e lamentações lá fora, ao invés de colocar mais lenha na fogueira e
reforçar ainda mais a energia negativa do momento, que tal olhar para dentro de
si e refletir sobre a sua participação neste contexto?"
Ok, não é nada fácil. Afinal, automaticamente vem à tona as
justificativas internas querendo jogar a responsabilidade para o externo e
todos os mecanismos internos de resistência que acabam na maioria das vezes nos
afastando da tão necessária autorreflexão. É preciso ser mais forte e
perseverante para vencer esses mecanismos internos e todo mal estar que ele nos
causa, para seguir em frente no processo de real mudança e libertação do peso
externo. Ainda que pareça estranho se sentir ainda pior inicialmente, é um mal
estar que contribuirá para ficarmos mais leves, uma energia de cura e não mais
de "doença" da crise.
A pressão externa também não ajuda, e é preciso resistir à vontade de
reclamar, de colocar a culpa somente nos governantes e corruptos quando os
outros começam a nos atiçar ou quando lemos ou assistimos notícias negativas.
Entrar nesta energia apenas agrava a atmosfera nociva que já está criada em
nosso país. Criar mais da mesma coisa só reforça a atual realidade.
Ainda que acreditemos que ao reclamar e nos revoltar estamos nos opondo
ao que não gostamos, caímos no extremo oposto e ficamos tão desequilibrados
quanto o que já existe. Ficar indignado e não concordar com as situações é uma
coisa, mas se revoltar e cair em uma energia agressiva e radical é outra.
Internamente pode parecer quase a mesma coisa, mas a qualidade do que
produzimos em todos os nossos aspectos físicos, emocionais, mentais e
espirituais, e emanamos para o coletivo, é completamente diferente.
Basta observar o que transmitem as pessoas revoltadas e que se opõem ao
que consideramos errado de forma mais agressiva. Elas transmitem paz,
felicidade ou algo positivo? Ou somente mais angústia e agressividade? Ao longo
da história entre vocês, este tipo de atitude promoveu uma real mudança ou
somente o extremo oposto?
A vida está nos chamando para uma mudança de verdade! Que a crise seja
nosso impulsionador dos passos necessários para a real transformação."A vida está nos chamando para uma mudança de verdade! Que a crise seja
nosso impulsionador dos passos necessários para a real transformação."
Que sejamos mais fortes que todos os sentimentos e pensamentos
agressivos e negativos que procuram colocar a culpa nos outros e fugir da nossa
própria responsabilidade. Que possamos de fato construir não só um país melhor,
mas um mundo melhor! Sejamos fortes neste momento, pois a pior batalha não está
fora, mas dentro de nós.
DICAS PARA LIDAR COM O MOMENTO
Para a autorreflexão:
Como estão meus cuidados com meu corpo/saúde física e com minha casa?
Procuro utilizar racionalmente os recursos como água e luz? Separo o lixo e
procuro evitar desperdícios?
Como lido com meus sentimentos e pensamentos negativos? Como a agressividade, o pessimismo, o desânimo e as reclamações fazem parte de minha vida? Tenho a tendência de repetir situações negativas em minha vida?
Como lido com meus sentimentos e pensamentos negativos? Como a agressividade, o pessimismo, o desânimo e as reclamações fazem parte de minha vida? Tenho a tendência de repetir situações negativas em minha vida?
Enxergo a beleza da vida e de meu próprio ser? Enxergo e cuido de mim,
das pessoas e do mundo, reconhecendo e respeitando a sacralidade que existe em
tudo?
EXERCÍCIO PARA NÃO SE CONTAMINAR PELA CRISE
Se respondeu sim para uma ou mais questão, experimente focar nos
aspectos positivos de sua vida. Seja grato pelas pequenas coisas. Não podemos
mudar o mundo lá fora, mas temos, sim, como mudar de acordo com nossa vontade o
próprio espaço pessoal. Para isso, sugiro abaixo o exercício de Joshua David
Stone, no livro Psicologia da Alma (Ed.: Pensamento).
Não sabemos exatamente o que é bom ou ruim, pois podemos estar na
ilusão. Nesses casos, intencione e visualize que você está envolto por uma
esfera dourada semipermeável, que só deixa entrar aquilo que está de acordo com
a sua sacralidade. As interferências externas desarmoniosas batem na parede da
esfera e escorrem por ela, impedidas de entrar. Qualquer interferência interna
que não esteja de acordo com o nosso sagrado é também imediatamente sugada para
fora, escorrendo pelas paredes da esfera luminosa.
Esse exercício de intenção e visualização cria nos âmbitos sutis uma
atmosfera saudável, que nos serve como ferramenta de proteção e harmonização.
Terapeuta
acquântica, faz atendimentos presenciais no Rio de Janeiro, em São Paulo e à
distância. É a autora do livro Para que o Amor Aconteça, da Coleção
Personare. Saiba mais
»
contato: ceciakamatsu@gmail.com
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