Rieu

27/09/2015

Desmistificando a Ascensã


Durante todo o processo de transformação que tenho passado, tiveram vários momentos em que precisei de referenciais externos para saber onde estava e qual o melhor caminho a seguir. Principalmente no começo quando tudo relativo ao “despertar” era novidade para mim, as informações disponibilizadas por quem já havia trilhado este caminho foram indispensáveis para a compreensão do que eu passava.

Mais tarde, chegou um momento onde me pareceu que tudo o que eu poderia ter lido para me ajudar eu já tinha lido e que era o momento de centrar em meu coração e viver meu próprio caminho, a partir do que eu sentia e acreditava como verdade. 

Claro que inicialmente tive algumas dificuldades, a maior delas acredito que foi devido às diferentes linguagens contidas em todas as informações disponíveis sobre o processo de ascensão. Umas vieram do budismo, outras do hinduísmo, outras dos Mestres Ascensos e inúmeras outras que não sabia nem de onde surgiram mas que em algum momento me pareceu fazer muito sentido. Tinha exemplos de monges, religiosos e outras pessoas que descreviam cada um com suas palavras este novo estado de consciência, de sentir e de ser. Assim, como é comum para qualquer ego, ia construindo uma imagem deste novo Eu que ia atingir, ele seria sábio como um Buda, amável como um Cristo, de ação pura como Krishna e presente como o Eckhart Tolle! Hahaha agora chega a ser até engraçado, mas na hora enquanto identificado com aquilo, enquanto confrontava toda a minha vida com este novo referencial não era, era mais um motivo de resistência e sofrimento. Ninguém está imune ao ego espiritual, faz parte de nossa jornada compreendê-lo para assim também compreender como funciona este nosso mecanismo de construir imagens pessoais. 

Foi então que percebi (digo “percebi” pois teoricamente já sabia, mas naquele momento apenas me caiu a ficha) que Buda, Cristo, Krishna ou Eckhart Tolle tem seus próprios pontos de vista e cada um teve seu próprio caminho, assim como eu também teria os meus. Cada um deles e de nós representam um aspecto diferente da expressão de toda a Criação. A partir daí então comecei a me aceitar mais e pegar mais leve comigo mesmo, me cobrar menos e a aprender a me amar como um outro aspecto único da expressão Divina que todos somos. 

Assim, sem mais me preocupar com referenciais religiosos ou científicos do além ou do passado sobre a iluminação, quis simplificar a linguagem disso tudo para o que vivo hoje em 2015. Às vezes um Mestre nos dá uma descrição tão clara e precisa de um determinado ponto dentro de um momento do Ser que nos parece impossível de sentir ou perceber aquilo, nos parece que aquilo é algo tão elevado que falta milênios para chegarmos lá, mas que na verdade já está aqui, nós já somos isso e apenas não temos o foco e percepção de um Mestre ainda. 

Vou então descrever aqui este processo de despertar da maneira mais simples que pude organizar internamente, desmistificando alguns aspectos que julgamos “elevados” demais ou que não somos dignos ou que não estamos prontos ainda etc. Todos que buscamos este tipo de informação já estamos prontos, já somos Mestres. Não estamos nos transformando em nada, tudo já está pronto esperando apenas pararmos de nos distrair com bobagens espirituais de outras eras e decidirmos pela nossa iluminação de uma vez por todas. O Ser é tudo o que há, o resto é história. O Ser nunca foi para lugar nenhum, sempre esteve aqui. 

O centro de nossa consciência fica no chakra frontal. A consciência trafega pelos diversos aspectos da personalidade, ora estacionando em um ora em outro, subindo e descendo vibracionalmente pelos outros chakras a cada momento acreditando em um ou outro ponto de vista como sua verdade. Assim, através dos diferentes aspectos constituintes de nossa personalidade vamos percebendo a vida, experienciando nossa realidade de acordo com o ponto de partida de onde a observamos. 

Mudar de ponto de vista e consequentemente de realidade se torna mais fácil na medida em que nos familiarizamos com nosso “Eu consciência”, o “observador” e nos desapegamos do nosso “Eu entidade”; também na medida em que compreendemos que nenhuma realidade é mesmo real, todas são construídas mentalmente por ideias reforçadas por justificativas encontradas na vida material que continuam a ser acreditadas e reforçadas até virarem crenças e depois programações, que posteriormente são reforçadas com emoções e se enraízam se cristalizando assim em um molde, um modelo de pensamento, até que recebe mais energia e se torna um aspecto de personalidade, uma entidade que acreditamos ser o que somos. Desta forma manifestamos a vida a partir do que acreditamos ser verdade, a matriz de nossa realidade. 

Cada aspecto de nossa personalidade tem sua própria verdade. Cada partezinha da totalidade que somos hoje já foi um dia um “Eu” dominante, seja em uma fase de nossa infância e adolescência, seja outra pessoa que fomos em uma encarnação passada ou realidade paralela, algo que recebemos em nosso DNA ou até mesmo algum molde que captamos de alguém. 

Compreender que somos a consciência que observa tudo por trás de cada aspecto é a chave para nos libertarmos do aprisionamento em nossa personalidade limitada e de nossos "Eu“ mais ligados à matéria. Quanto mais nos soltamos da rigidez destas verdades sobre a vida material, mais fluida a vida se torna e mais facilmente mudamos nossa realidade. 

Vou dar um exemplo prático: um dia estamos bem, noutro estamos mal. Não há nada de errado nisso, mas por que isso acontece? Isso acontece quando nossa consciência (chakra frontal) trafega por nossos diferentes aspectos ocultos de nossa personalidade (outros chakras) enxergando a vida como se fosse eles, definindo assim inconscientemente e a cada momento a realidade onde está. 

Um dia acordamos em amor e gratidão, temos insights e ideias brilhantes, tudo parece contribuir para concluirmos nossas tarefas do dia e o baixo astral de ninguém consegue nos incomodar. Mas de repente temos uma expectativa frustrada que inconscientemente ativa um registro de nossa sombra, de tristezas e dificuldades de tempos remotos que logo puxa a nossa consciência para um aspecto inferior de onde passamos a observar o mundo através daquelas tristezas e feridas do passado, buscando e o pior, criando e encontrando justificativas para sua existência: “ai como fulano é ruim”, “ai como o país está mal”, “ai como tudo é difícil”, “ai como nada dá certo para mim” e por aí vamos, até já esquecemos da verdade amorosa que vivemos naquela manhã. 

A maioria das pessoas não sabem nem que têm consciência, simplesmente vão vivendo buscando satisfazer seus desejos e suprir seus vazios, permanecendo assim protegidas das dores de descobrir do que é feita a própria personalidade. O despertar então acontece quando aquele estilo de vida espiritualmente cego e inconsciente de si mesmo já não acrescenta mais nada ao propósito daquele Ser. Então, em um momento de grande distanciamento de sua própria alma e consequente sofrimento a pessoa tem um surto de humildade, percebendo assim sua própria incapacidade de lidar consigo mesma. Naquele instante ela se abre para ajuda Divina, que pode vir através de seus próprios guias, dos Mestres e sempre em cooperação com seu Eu imediatamente superior ao ponto de vista do aspecto que a colocou naquele beco sem saída.

Dependendo do nível da fé e abertura da pessoa (às vezes o choque é tão grande que a abertura é permanente), o acesso a níveis superiores de seu Ser permanece aberto e esta comunicação se torna instantânea, esperando apenas que a pessoa formule a pergunta para receber a resposta que já está lá. O processo de perguntar para Deus ou para seu Eu Superior já vem carregado do reconhecimento de nossa incapacidade de solucionar algo a partir daquele nível de consciência e sempre é sinal de que a pessoa já está pronta para acessar a sabedoria de seu Eu Superior. 

Por isso nos meios esotéricos e espirituais dizem que “somos tudo o que há” ou que “tudo já está dentro de nós”. Pois tudo é consciência, o resto são apenas pontos de vista. Se alguém não está satisfeito com a realidade em que vive, comece a buscar maneiras mais elevadas de enxergar aquilo se abrindo para partes superiores de seu próprio Ser. 

Enquanto tivermos aspectos ocultos de personalidades identificados como sendo o que somos, enquanto dizemos “eu sou isso”, a vida continuará trazendo situações para que o aspecto se torne evidente, para que em um momento de total identificação consigamos nos lembrar de quem realmente somos (somos o próprio Eu Sou, o observador que diz eu sou isso ou aquilo, o pleno potencial de ser tudo o que eu acreditarmos ser) e “ascender” com nossa consciência naquele aspecto. São várias ascensões até a iluminação, quando a maioria dos aspectos já foram identificados, ou melhor dizendo, desidentificados e já estamos tão conscientes deste jogo que até já aprendemos a gostar dele. Ainda assim é impossível definir (e assim limitar) o que é a iluminação, pois sempre haverá um nível de consciência mais abrangente e uma nova “verdade” esperando por nós. 

Certo dia estava bravo com uma questão recorrente em minha vida. Instantaneamente, ao mesmo tampo que formulei a pergunta “por que estou vivendo isto?” me veio a resposta, “pontos de vista”. Então perguntei “e como faço para mudar um ponto de vista tão acreditado como verdade?” e então senti Saint Germain: “inventa outro, assim como você inventou esse”. Agradeci e muito desconsertadamente dei risada da verdade simples e sem rodeios que vem de um verdadeiro Mestre. 

Entendi bem a lição, nada aqui é real, tudo é inventado e acreditado como real. Sendo consciência podemos transitar livremente pela realidade quisermos sem nos apegarmos a nenhuma. Quando há o apego ocorre a identificação com o personagem, é quando nos prendemos nas limitações de algum aspecto. Mas enquanto estivermos centrados no coração, em desapego e conscientes de nossa consciência, seremos livres. 

Um Mestre nunca vai achar que precisa manifestar algo na matéria para ser um Mestre, Ele simplesmente não tem necessidade de fazê-lo. Um Mestre nunca vai achar que precisa ter o corpo perfeito ou atrair rios de dinheiro para ser um Mestre, Ele já enxerga a perfeição e a abundância no que tem. Um Mestre não abandona seu lado humano por convenções religiosas ou medo de voltar a ser o que era, Ele é capaz de enxergar o sagrado em todas as formas de expressão do seu Ser. 

Se compreendemos nosso funcionamento e dominamos a mudança do nível de consciência para as diversas frequências de nosso próprio Ser, já conquistamos o desapego necessário para uma vida plena e sem os frágeis apoios externos. Assim, aprendendo a focar na realidade que preferimos sem dúvidas ou identificação da consciência com algum aspecto oculto, logo (e sem pressa ou necessidade) ela se manifestará de maneira inusitada e espontânea. Isto é Mestria. 

Namastê! 

Rodrigo Durante 

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