Autor: Marta Antunes
Moura
Um dos princípios da Doutrina Espírita é a
reencarnação, entendida pelos orientadores espirituais como necessária à
evolução humana, pois “uma só existência corpórea é claramente insuficiente
para que o Espírito possa adquirir todo o bem que lhe falta e de desfazer de
todo o mal que traz em si.”[1]
Para nos auxiliar no processo ascensional,
Deus nos concede o livre arbítrio, uma vez que, se o homem “(…) tem liberdade
de pensar, tem também a de agir. (…).”[2] Podemos, então, afirmar que o ser
humano é o árbitro do seu destino e que cada escolha, independentemente das suas
motivações ou justificativas, acionam a lei de causa e efeito em qualquer plano
de vida que se situe: o físico ou o espiritual.
O
uso do livre arbítrio são ações que provocam reações, no tempo e no espaço. As
boas escolhas produzem progresso evolutivo, enquanto as escolhas infelizes geram
provações ou expiações que se configuram como mecanismos evolutivos,
moduladores da lei de causa e efeito, claramente consubstanciada no
planejamento reencarnatório de cada indivíduo. Daí Emmanuel afirmar: “A lei das
provas é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos
benefícios divinos.”[3]
Para
melhor compreensão do assunto, Emmanuel especifica também a diferença que há
entre prova (ou provação) e expiação: “A provação é a luta que ensina ao
discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual.
A expiação é pena imposta ao malfeitor que comete um
crime.”[4]
Percebe-se,
portanto, que a prova assemelha-se a uma corrida de obstáculos que tem o poder
de impulsionar o progresso humano. As provas sempre existirão, mesmo para
Espíritos superiores, por se tratarem de desafios evolutivos. A expiação,
contudo, representa uma contenção temporária da liberdade individual,
necessária à reeducação do Espírito que, melhor utilizando o livre arbítrio,
reajusta-se às determinações das leis divinas.
As
provações podem ser difíceis, não resta dúvida, mas, por seu intermédio, o
Espírito é colocado em situações que o afasta do estado de inércia em que ora
permanece ou se compraz, proporcionando-lhe, ao mesmo tempo, oportunidades
para que ele possa trabalhar a melhoria das suas atuais condições de
vida.
Nas
expiações, o Espírito vê-se colocado prisioneiro das más ações cometidas, pelo
uso indevido do livre arbítrio. Para que não se prejudique mais, renasce sob
processos de contenção que, obviamente, produzem sofrimentos, sobretudo se o ser
espiritual ainda não consegue apreender o valor da dor como instrumento de
educação e cura espirituais.
Em
O Céu e o Inferno, Allan Kardec lança outras luzes a respeito do tema, quando
explica que o arrependimento das faltas cometidas é o elemento chave para
liberar o Espírito das provações dolorosas e das expiações. O Codificador, assim
se expressa:
Arrependimento,
expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de
uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza as dores da expiação,
abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode
anular o efeito destruindo-lhe a causa.(Grifos no
original)[1]
Nesses
termos, a libertação do Espírito, ou reparação, indica ser a etapa final da
expiação porque, perante os códigos divinos, não nos é suficiente expiar uma
falta, é preciso anulá-la, definitivamente, da vida do Espírito imortal, pela
prática do bem:
A
reparação consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não repara
os seus erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á numa existência
posterior em contato com as mesmas pessoas a quem prejudicou, e em condições
voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes o seu devotamento, e
fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito.[2]
Referências
KARDEC,
Allan. O Céu e o Inferno. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de
Janeiro: FEB Editora, 2009.
__________.
O Livro dos Espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª reimp. Rio de
Janeiro: FEB Editora, 2011.
XAVIER,
Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28ª ed. Rio de Janeiro:
FEB Editora, 2008
[1]
Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. III, it. 9, pág.
49.
[2]
Idem. O Livro dos Espíritos. Q. 843, pág. 507.
[3]
Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Q. 245, pág.
201.
[4]
Ibid., q. 24, pág. 201.
[5]
Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. VII – Código penal da vida futura
-, q.16ª, pág. 126.
[6]
Ibid., q. 17ª, p. 12.
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