Imagem: Dollar Photo Club
Se não forem
trabalhadas, atitudes podem se repetir nas vidas individual e afetiva
Todas as famílias estão sujeitas a crises ao longo de sua história. Mas
não necessariamente estas crises precisam causar danos aos membros da família.
As crises são momentos de instabilidade necessários para impulsionar a família
ao crescimento e evolução. Elas criam uma necessidade de reorganização das
relações entre os membros e os levam a descobrir novas regras para o
funcionamento do sistema familiar.
Quando há alguma crise ou mudança de
ciclo de vida familiar, como a saída de um filho de casa para morar sozinho, um
casamento, o nascimento de uma criança ou mesmo a morte de algum familiar, é possível
a constatação de algum padrão que é transmitido através das gerações. É o que
chamamos na Psicoterapia Familiar Sistêmica de padrões familiares
transgeracionais.
PADRÕES DE REPETIÇÃO
São exemplos de padrões familiares transgeracionais:
Uma mulher que ainda não tem filhos e
de repente engravida pode despertar o inconsciente para algum padrão
disfuncional em relação à maternidade. Com isso, ela pode repetir com seu filho
comportamentos que antes condenava em seus pais;
Dois jovens que decidem morar juntos
começam a passar por conflitos quando os padrões de relacionamento que
aprenderam com suas famílias de origem são levados ao novo casamento.
A cada nova etapa do ciclo de vida familiar, um novo desafio se
apresenta aos membros do sistema. Cabe a cada um passar por essas transições
sem deixar que as crises sejam de grandes proporções. Para isso, é necessário
compreender o legado transmitido pela família de origem, elaborando bem as
questões não resolvidas em seus relacionamentos familiares, a fim de evitar que
os problemas se estendam às relações afetivas ou se perpetuem na sua história
individual.
A LEALDADE INCONSCIENTE QUE IMPULSIONA A REPETIÇÃO
Há, contudo, um fator de origem inconsciente que influencia sobremaneira
nas repetições de padrões, chamado de lealdade invisível.
As lealdades invisíveis dizem respeito a algumas expectativas que devem
existir e se fazer cumprir por todos os membros da família. É como um grande
livro com bordas e escrita envelhecidas, no qual se contabilizam os créditos e
débitos do grupo familiar, no qual conexões vão se estabelecendo entre as
gerações, criando expectativas que irão influenciar todo o grupo familiar.
Podemos pensar que cada membro que nasce possui um papel preestabelecido e precisará
cumprir com as obrigações e expectativas designadas pela geração anterior.
A lealdade invisível poderá
permanecer no inconsciente do grupo e poderá se manifestar na mudança de uma
etapa do ciclo de vida familiar. Uma das etapas mais estressantes é o nascimento
do primeiro filho do casal, que pode vir carregada de expectativas de ambas as
famílias."Uma das etapas mais
estressantes é o nascimento do primeiro filho do casal, que pode vir carregada
de expectativas de ambas as famílias."
Assim, os cônjuges podem iniciar seus conflitos a respeito dos papéis de
cada um e da maneira como devem educar os filhos. Cada um pode desejar
representar seus próprios papéis determinados por seus antepassados, fixando
uma posição rígida para cumprir, cada um à sua maneira, sua lealdade ao seu
grupo de origem.
ACEITAR E REELABORAR O LEGADO
O legado familiar faz parte da
história de qualquer indivíduo e, portanto, é inevitável. Contudo, ele não
precisa ser destinado aos descendentes de uma família como algo rígido e
imutável. O legado deve ser elaborado internamente, comunicado e, algumas
vezes, reformulado para que a família tenha maior flexibilidade e desenvolva
padrões saudáveis de relacionamento."O legado deve ser
elaborado internamente, comunicado e, algumas vezes, reformulado para que a
família tenha maior flexibilidade e desenvolva padrões saudáveis de
relacionamento."
Assim, com a herança familiar reelaborada, cada membro familiar poderá
compreender melhor suas escolhas e atitudes perante o outro. Os indivíduos
poderão construir um contrato próprio quando na relação de casal, com os
elementos que cada um deseja trazer de sua família de origem, aliados às
experiências individuais de cada cônjuge. Desta forma, todos estarão cientes de
suas atitudes e transformarão a relação, interrompendo o ciclo de repetição e
transmitindo uma herança consciente para as futuras gerações.
O mais importante é perceber que muitas vezes será necessário ser
desleal ao sistema familiar para que o indivíduo possa ser leal consigo mesmo e
assim reelaborar sua história e aproveitar o legado familiar de maneira mais
consciente, madura e saudável. Com isso, ele ajuda a apaziguar não só seus
próprios conflitos, mas em alguns casos e inconscientemente, os conflitos de
toda uma geração de sua família.
SOBRE O AUTOR:MARIA CRISTINA
É psicóloga e atende em consultório
em BH. Tem amor pela profissão e o desejo constante de auxiliar as pessoas a
enfrentar suas crises e a buscar o autoconhecimento. Saiba mais »
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