Para que se encaixar em padrões? Apaixone-se por suas qualidades
Quem, quando está apaixonada, já não viu os outros se surpreenderem com
o brilho da pele, a expressão dos olhos e a maciez do próprio cabelo? E
realmente tudo muda em uma situação como esta. A adrenalina e a emoção de amar,
a libido em alta, agem a favor de uma circulação sanguínea melhor e de um
metabolismo mais energizado. O resultado: pele e cabelos mais bonitos, olhos
brilhantes, vida. Se pensarmos que a paixão não é exatamente comum na vida das
pessoas, e acontece poucas vezes em uma existência, vamos ver que esta beleza
em estado puro é rara demais. Mas tem um jeito para manter esse astral e essa
energia à flor da pele: é viver apaixonada. Pela vida, por si mesma, pelos
amigos, pelos desconhecidos, pela natureza, pelas coisas mais simples que nos
rodeiam.
Curtir o florescimento de um jardim, preparar uma refeição com todo
carinho, tomar um banho de cheiro, com aromas deliciosos, massagear e ser
massageado... Nutrir-se de sensações boas é um passo sensato e inteligente para
se apaixonar pela vida. A pessoa apática funciona como um reservatório de água
parada: as impurezas externas somam-se às internas e é difícil renovar a
cisterna, a menos que se jogue tudo fora e comece um novo processo de captação
de água (energia) com movimento e fluxo constantes.
VOLTANDO-SE PARA DENTRO
Movimento. Está aí uma palavra-chave para entender os processos da vida.
Movimentar a mente e o espírito é tão importante quanto mexer o corpo. Desafiar
a chamada zona de conforto pode trazer um certo medo no início, mas é um bom
jeito de explorar potencialidades e crescer. Viajar, ir ao cinema sozinha,
revelar o seu amor por alguém. Viver, simplesmente. Trabalhar mais o
"dentro" do que o "fora". Estamos todos - e principalmente
nós, mulheres - voltados muito para fora, para a casca, nesses últimos tempos.
Certamente, por causa disso, estamos entre as que mais recorrem à cirurgia
plástica no mundo todo, além de também liderarmos o ranking das que mais
consomem remédios para emagrecer no planeta. São índices que nos envergonham,
porque evidenciam a insegurança, o constrangimento, a culpa, a futilidade e a
baixa estima dessa fatia de mulheres que só buscam se encaixar no
"padrão".
Neste dia 8 de março, quando vamos
comemorar mais um Dia Internacional da Mulher, precisamos passar para nossas
filhas, amigas, irmãs e desconhecidas a valiosa mensagem de que somos, sim,
livres, inteiras e lindas como somos. Não precisamos nos desfigurar em
plásticas, exagerar no Botox nem arriscar a vida em lipos cada vez mais
mortais. Depois de tanta luta por direitos, por espaço e voz, que foram
merecidamente conquistados entre os anos 60 e 80, é patético ver o
"feminino" se transformar em um padrão fixo, rígido e infeliz. Precisamos
ser amigas de nosso corpo, não juízas implacáveis da aparência. "Precisamos ser amigas de nosso corpo, não juízas implacáveis da
aparência."Não podemos mais
ter culpa e vergonha por não nos encaixarmos nos tamanhos 38 ou 40. Precisamos
passar para nossas filhas a mensagem de que vale a pena viver- de forma mais
livre e íntegra, e gostando do próprio corpo do jeito que ele é. Da altura, do
nariz, da cor de pele, do tipo de cabelo. Assim que a menina começa a crescer,
ela se descobre como um ser feminino, e seu modelo mais direto é a mãe. Se ela
recebe afeto e sente que é admirada e valorizada, tenderá a gostar de si mesma
e aceitar seu corpo como é.
Como já disse o filósofo francês Michel de Montaigne, no século 16:
"A pior desgraça para nós é desdenhar aquilo que somos". Em 2010,
vamos nos valorizar e nos respeitar mais. Talvez esta seja a bandeira mais
importante depois do feminismo e da luta pela igualdade dos anos 60.
SOBRE O AUTOR: CHANTAL BRISSAC
Chantal Brissac é jornalista e
autora dos livros "Quem é você, mulher? "(Mercuryo),"Demitido?
Sorte sua!" (Ediouro) e "Seja feliz também naqueles dias"
(Ficções).
Revista Personare
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