“Não posso fazer nada contra quem me feriu achando que o seu sofrimento trará satisfação e corrigirá o erro. A vingança nunca é um caminho. Justamente o perdão supõe a não vingança”, defende Julio Lancellotti
O que é preciso para que o perdão seja visto como a possibilidade de um novo recomeço, de um novo caminho a ser traçado para além do erro/falha cometido?
A resposta a essa pergunta é dada, nesta entrevista, pelo padre Julio Lancellotti, que afirma: “que nunca o perdão seja humilhação, mas que seja dignificação. Que a pessoa se sinta tão digna diante de Deus, pois o amor de Deus é maior do que seu erro. Por pior que eu tenha feito, Deus ainda me ama, porque eu sou filho Dele. E isso não se destrói. Então, é preciso acolher com toda a bondade, delicadeza, mas com firmeza. A bondade não significa nunca frouxidão, mas a firmeza da dignidade humana. Ninguém perde a dignidade por um erro que cometeu. A pessoa deve continuar a ser tratada com dignidade. Muitas vezes na nossa sociedade os que erram, ou os que são considerados bodes expiatórios, os ‘errados’ no convívio social, são tratados com toda a crueldade, justificando a tortura, a ‘justiça com as próprias mãos’, a pena de morte. Nós vivemos em uma sociedade tão desigual que um senador que comete algum crime tem foro privilegiado. E um morador de rua que quebrar, danificar, ou roubar alguma coisa para comer é considerado um criminoso e todos acham que podem queimá-lo, matá-lo, destrui-lo. É preciso manter a dignidade humana, pois a pessoa precisa acreditar que é capaz de superar o erro, porque Deus nos ama. Seu amor sempre é maior”.
Na conversa por telefone à IHU On-Line, Pe. Julio ainda reiterou que “a memória do pecado e do erro não é uma memória da culpa, mas a memória da graça, que liberta. O importante é não lembrar de maneira mórbida, mas de uma maneira que construa uma forma nova de viver que não repita o que foi feito”.
Entrevista concedida a Graziela Wolfart
Revista do Instituto Humanitas Unisinos
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