Era apenas um garotinho quando o universo espiritual indígena o chamou. Nasceu em terras "Kari-Okas", no seio de uma família da zona sul, mas já se imaginava filho de índios... Imaginação infantil? Todos diziam que sim! O menino cresceu e, estranhamente, continuou o seu caminho em direção à "floresta". Por quê tal interesse? Ninguém sabia responder, nem ele mesmo. Surge, então, o indigenista.
Na Funai, e fora dela, Luiz Filipe desenvolveu inúmeros trabalhos junto aos povos indígenas: demarcação de terras, retirada de invasores, dentre tantos outros. No Mato Grosso, em um de seus longos trabalhos, conviveu com os Xavante, povo que o adotou e o batizou com o nome de Tsiipré, que significa Pássaro Vermelho.
No dia 28 de agosto de 1988, acompanhado por um amigo ativista da causa ambiental, Tsiipré percorreu, de canoa, os 557 quilômetros do Rio das Mortes, no seu trecho entre Nova Xavantina até a boca, no Rio Araguaia, e de lá, por mais 18 quilômetros, alcançou a pequena cidade de São Félix do Araguaia, onde futuramente pretende realizar o "Projeto Ribeirinhos no Círculo da Vida", com saúde, pela visão oriental, artes e educação ambiental, cuja proposta já foi apresentada naquela região. Mas voltando ao Rio das Mortes, tal iniciativa, denominada "Projeto Mortes que te quero Vivo", contou com o reconhecimento e o apoio da Universidade Federal de Mato Grosso, da Fundação Nacional Pró-Memória e da Associação Mato-grossense de Ecologia. Através de um registro fotográfico e de entrevistas com os ribeirinhos, eles obtiveram um diagnóstico da área percorrida e, posteriormente, elaboraram um detalhado relatório, incluindo a sugestão de uma APA (Área de Proteção Ambiental) em local criteriosamente escolhido. A partir desse trabalho, a vida do indigenista Luiz Filipe Tsiipré passou por uma profunda e radical transformação, coincidindo com o premonitório sonho que sua então esposa, a antropóloga Vera Lopes, tivera no passado: Tsiipré partiria em busca de sua missão, indo morar nos Estados Unidos. E assim aconteceu!
De indigenista para terapeuta oriental, Tsiipré aterrissa no Arizona e em Dakota do Sul. O "chamado" que recebera ainda criança fora, finalmente, esclarecido! Uma longa jornada no tempo o levou de encontro ao seu passado ancestral: um índio da Nação Lakota-Sioux, do subgrupo Minneconjou, chamado Si Tanka, ou Alce Malhado, mais conhecido por Big Foot - morto em 29 de dezembro de 1890, no último massacre da história da colonização americana, em Wounded Knee, no Dakota do Sul.
Sua vida transforma-se em um livro - prefaciado por Leonardo Boff e com notas do jornalista André Trigueiro - tricampeão em vendas pelo selo Nova Era, do Grupo Editorial Record, nas bienais do livro de 2011, 2012 e 2013. Nesta obra, que está sendo vertida para o inglês e o francês, Tsiipré consegue reunir todas as lembranças, sentimentos e questionamentos a respeito do seu vínculo com o universo indígena que o acompanham desde a infância, e nos traz a reflexão de que o acaso não existe, e que por trás de todas as coisas estão as influências espirituais que se afinam com os nossos pensamentos e atitudes. O livro, que demorou seis anos para ser concluído, foi escrito totalmente à mão, numa clareira de mata, e sensibiliza o leitor quanto à importância de estarmos atentos para que possamos ouvir, compreender e, então, seguir as nossas intuições - a nossa voz interior!
Tsiipré Figueiredo
www.umajornadanotempo.blogspot.com
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