Manifestar seus
sentimentos pode ajudar a desfazer mágoas
São muitos os momentos em que pode ser sentida a ausência paterna. Desde
os pais que já se foram aos que nunca estiveram presentes mesmo estando vivos,
a proximidade de algumas datas, como do Dia dos Pais, traz, para algumas
pessoas, sentimentos de nostalgia, saudade, mágoa, tristeza e até mesmo raiva.
Vivemos uma transformação radical em nossa sociedade nos dias de hoje e
muitos pais estão descobrindo o quanto é bom ser responsável pela formação de
um filho, o quanto é bom receber abraços e beijos de amor e gratidão, o quanto
é importante transmitir valores e acompanhar a evolução e o desenvolvimento da
prole. Mas esses mesmos pais nem sempre tiveram a sorte de ter pais para amar e
respeitar, com quem puderam aprender e em quem puderam confiar.
Não há realidade mais fácil ou mais difícil ao lidar com a ausência do
pai. Cada pessoa lida com essa ausência, quando ela ocorre, de uma forma muito
particular. E os motivos da ausência paterna são diversos, da mesma forma que
são diversas as formas de entender a figura do pai.
A LEMBRANÇA PATERNA TRAZ ALGUM TIPO DE DOR PARA VOCÊ?
Para muitas crianças, adolescentes ou
mesmo adultos, o pai representa a punição, o medo, a dor. O pai que se faz
presente através da surra, do grito, de exigências, de palavras duras e até
mesmo vulgares deixa na pessoa uma sensação de desamparo, de incapacidade, uma
impressão de não haver nada que possa satisfazê-lo para ser merecedora de sua
atenção amorosa."O pai que se faz
presente através da surra, do grito, de exigências, de palavras duras e até
mesmo vulgares deixa na pessoa uma sensação de desamparo, de incapacidade, uma
impressão de não haver nada que possa satisfazê-lo para ser merecedora de sua
atenção amorosa."
Muitos adultos ainda tremem como quando eram crianças diante de sua
presença austera e perturbadora. O sentimento é de que o pai amoroso existe,
mas... Onde é que ele está? Trancado dentro daquela figura ameaçadora sem que
se possa acessá-lo?
Outras pessoas conhecem seus pais, mas não convivem com eles. Esses pais
muitas vezes não assumem a paternidade do filho, impossibilitando criar um
vínculo de intimidade e afeto. Muitas pessoas, depois de uma certa idade,
buscam esses pais na tentativa de compreender a razão dessa indiferença, dessa
ausência deliberada. E são muitos os que crescem acreditando serem os culpados
pelo distanciamento do pai, imaginando que não são merecedores do afeto dele.
Quando o encontro acontece, nem sempre eles são esclarecedores e são raras as
vezes em que, num esforço mútuo, consegue-se desenvolver e cultivar um
relacionamento paterno e filial, já que será preciso alguma maturidade e
compreensão para superar uma ausência de tanto tempo.
Outras pessoas, ainda, jamais viram seus pais. Ou porque eles sumiram da
vida de suas mães sem deixar rastro ou mesmo porque sequer sabem que têm um
filho, ou ainda por irresponsabilidade ou incompetência para lidar com essa
realidade. Esses filhos não sabem por onde começar a procurá-lo e acabam por
idealizar o pai perfeito ou, por informações recebidas, dependendo do caso, a
vê-lo como o maior dos monstros. Essa situação provoca um imenso vazio porque
não há uma figura nem para amar, nem para odiar e nem para compreender.
Por fim, existe o pai apático. Aquele que, não importa se mora ou não na
mesma casa, não vocifera, mas também não participa de nada, não se envolve, não
demonstra interesse, é uma pessoa para quem tudo tanto faz. Uma figura
decorativa a quem chamar de pai é igualmente um pai ausente, inexpressivo, que
dá a sensação de viver apenas em seu mundo particular, no qual os filhos não
existem. Essa situação causa uma grande ansiedade nos jovens e crianças que
acabam muitas vezes agindo de forma a exigir nem que seja o que chamamos de
"carícia negativa": vale fazer tudo de errado para chamar a atenção
daquela criatura que parece não ter sentimentos. E muitas vezes nem assim
conseguem alguma reação.
É claro que para cada tipo de pai existe uma mãe que participa dessa
realidade, que é cúmplice ou omissa, vítima de sua própria história, mas não é
o caso, agora, de nos aprofundarmos nesse tema.
DESFAZENDO AS MÁGOAS COM O PAI
Para quem se identifica com essas situações de ausência paterna, é bom
saber que nem os pais, nem ninguém, muda seu jeito de ser para satisfazer
nossas necessidades ou desejos. Eles são como são. E na maior parte das vezes
existe uma qualidade de amor nesses filhos que fica represada, com receio de se
manifestar, por medo de enfrentar uma possível rejeição.
Mas por que deixar que esses temperamentos difíceis impeçam esses filhos
de manifestar seus sentimentos? Costumo dizer que muitas vezes amamos
"porque" e outras vezes "apesar de", mas nem por isso deixa
de ser amor. Assim, é muito saudável manifestar esse amor - não necessariamente
para fazer o outro se sentir bem, mas para que esse amor não fique aí dentro de
você, sem voz. É quase como fazer um carinho em si mesmo, é respeitar os
próprios sentimentos e dar vazão a eles.
Os que conseguirem falar pessoalmente
uma frase, uma palavra ou até mesmo um discurso inteiro para esse pai ausente
experimentarão o alívio e a satisfação de se manifestar. Amar "apesar
de" também é amar. E todo amor vale a pena. Declare-se, ainda que não vá
resolver todas as mágoas. Declare-se sem esperar nada, a não ser sua satisfação
em poder fazê-lo."Amar "apesar
de" também é amar. E todo amor vale a pena. Declare-se, ainda que não vá
resolver todas as mágoas. Declare-se sem esperar nada, a não ser sua satisfação
em poder fazê-lo."
Se não puder ser pessoalmente ou se você ficar mais confortável
escrevendo, faça isso! Escreva uma carta ou um cartão. Mesmo que você não
conheça seu pai, também vale escrever essa carta ao pai desconhecido, colocar
ali seu coração, envelopar e botar numa caixa de correio. Simbolicamente essa
carta chegará ao seu destino, ou seja, ao seu próprio coração.
A raiva é um subproduto da mágoa. Não há raiva onde antes a mágoa não
tiver sido instalada. Claro que é legítimo sentir raiva em muitas situações,
mas ela consome uma quantidade imensa de energia. Ao menos por alguns momentos,
se você conseguir dar mais atenção ao amor que tem dentro de si, ao amor que
gostaria de manifestar "apesar de", certamente vai experimentar uma
onda quente e doce percorrendo seu corpo.
Escrever ou conversar também pode ser feito por quem perdeu seu pai,
seja através de um diálogo imaginário em casa, no lugar onde ele costumava ficar,
numa visita ao cemitério ou em algum local que vocês costumavam ir. Fechar os
olhos por uns momentos e recordar, abraçar e sentir-se abraçado, matar a
saudade revivendo boas recordações ou mesmo tendo aquela conversa que nunca
conseguiram ter enquanto ele estava presente, revelando seus sentimentos, suas
possíveis chateações e tentando trazer algum humor a essa conversa silenciosa,
certamente trará um conforto bom de sentir.
Nas datas especiais em que a efetiva ausência de um pai mexe mais
profundamente com nossos sentidos, não há nada que impeça uma comemoração junto
de um avô, de um tio, do pai de um amigo ou de um professor querido. Deixe essa
qualidade especial de amor de filho para pai se manifestar. Não se prive de
exercer esse sentimento, encontrando a melhor forma de extravasá-lo, seja com o
próprio pai ou com quem você julgar que possa representá-lo.
FONTE: REVISTA PERSONARE
SOBRE O AUTOR: CELIA LIMA
Psicoterapeuta Holística, utiliza
florais e técnicas da psicossíntese como apoio ao processo terapêutico. Presta
atendimento individual e em grupo, e serviços de mentoring pessoal e
profissional
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