28/06/2018

MÚSICA, VIBRAÇÃO E SINTONIA


251. A música possui infinitos encantos para os Espíritos, por terem eles muito desenvolvidas as qualidades sensitivas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que de mais belo e delicado pode a imaginação espiritual conceber.
(O LIVRO DOS ESPÍRITOS  - Allan Kardec)

MÚSICA, VIBRAÇÃO E SINTONIA
A música é vibração e pode estimular o Espírito, provando sensações de nível superior, permitindo vibrarmos em sintonia com esse algo superior, despertando a essência Divina que dorme em cada um de nós. Ao vibrar, sintonizamos com vibrações sutis que pululam no Universo. Podemos sentir vibrações que, por outros meios não sentiríamos, emoções novas brotam na alma, levando o Espírito a querer evoluir. A música representa, pois, elevada interação vertical com as esferas superiores da vida universal.

A MÚSICA EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS
 “- Queres falar de vossa música?
O que é ela diante da música celeste? Desta harmonia que nada sobre a Terra pode vos dar uma idéia? Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia. Entretanto, os Espíritos vulgares podem experimentar um certo prazer em ouvir a vossa música, porque não são ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem para os

Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e de mais suave.”( O Livro dos Espíritos – questão 251)

EFEITOS DA MÚSICA NA EVOLUÇÃO DO SER
 Orson Peter Carrara
 Há influência musical no equilíbrio humano?

A variedade de sons alcançados pelas notas musicais na integração entre instrumentos e vozes humanas exerce grande influência na emoção e no desenvolvimento das criaturas humanas. Claro que com variedades, pois determinada melodia poderá trazer lembranças agradáveis a alguém, provocar melancolia e até entusiasmo em outras, enquanto nada provoque em muitas pessoas.

O tema é interessante e mereceu uma única pergunta de Kardec em O Livro dos Espíritos: a de número 251. Mas há observações valiosas em Obras Póstumas e na Revista Espírita.

Sem preocupar-nos com a história da música, biografia de grandes mestres ou outras informações de caráter cultural ou histórico, procuremos analisar o tema, à luz da Doutrina Espírita, sobre lembranças e emoções que a música provoque na sensibilidade humana. Afinal o que diz a Doutrina Espírita?

Em Obras Póstumas, no capítulo A Música Celeste, numa reunião familiar, a filha indaga ao pai se haveria música no Plano Espiritual. Sob ação mediúnica, ela escreve resposta do Espírito: O som de nossos instrumentos, a nossa mais bela voz, não podem dar a mais fraca idéia da música celeste e sua suave harmonia.

Logo mais o Espírito São Luiz ensina: A filha, desligando-se parcialmente, foi admitida nas regiões celestes onde pode perceber as impressões da harmonia celeste e expressou “Que música! Que música!”

E Kardec indaga o compositor Rossini* (Espírito) sobre o estado atual da música e sobre as modificações que lhe poderiam trazer a influência das crenças espíritas e a resposta do Espírito inicia-se com abordagem sobre harmonia. Segundo o dicionário, a palavra harmonia significa sucessão de sons agradáveis ao ouvido. Arte de formar e dispor os acordes musicais. Concórdia, paz e amizade entre pessoas. Ordem, coerência. O Espírito Rossini, todavia, em outras palavras, define harmonia como: resultante de um arranjo musical; como um sentido íntimo da alma e que é percebida em razão do desenvolvimento desse sentido íntimo da alma.

E oferece-nos esta pérola de pensamento: “(…) O Espírito produz os sons que quer. (…) Aquele que compreende muito, que tem nele a harmonia já conquistada, age sobre o fluido universal e reproduz o que o Espírito concebe, sente e quer (…)”.

Numa comparação, usando inclusive o pensamento de Rossini, podemos dizer que o éter vibra a ação da vontade do Espírito. A harmonia que traz em si se concretiza como a exalar o perfume, com lentidão ou rapidez, como no som harmonioso que se espalha. O Espírito que já conquistou a harmonia é como aquele que tem a aquisição intelectual. O Espírito sábio que ensina a ciência sente-se feliz por ensinar os que não sabem. O Espírito que faz o éter ressoar com os acordes da harmonia que já traz em si, sente-se feliz de ver satisfeitos os que o ouvem. E do mesmo Espírito, encontramos essa definição magistral: A música é o médium da harmonia.

Ela é, pois, essencialmente, moralizadora, uma vez que leva harmonia às almas, que por sua vez as eleva e as engrandece. Deduz-se, pois, que a música exerce uma feliz influência sobre a alma e a alma que a concebe exerce também uma influência sobre a música.
 A alma virtuosa que tem a paixão do bem, do belo, que adquiriu a harmonia, produzirá obras primas capazes de penetrar as almas mais blindadas, fechadas em si mesmas, e comovê-las. Já o compositor terra-a-terra como poderá representar a virtude que ele despreza, o belo que ignora ou o grande que ele não compreende? Suas composições serão o reflexo de seus gestos sensuais, de sua leviandade. Serão obscenas, licenciosas, sensuais e causarão mais danos que melhorar os ouvintes.

É aí que o pensamento de Rossini, adaptando-o com texto de nossa autoria, aparece em toda sua grandeza: O Espiritismo, moralizando os homens, exercerá, pois, grande influência sobre a música. Por sua vez, ouvintes moralizados, apreciarão músicas elevadas, deixarão de lado a música frívola que se apodera das massas.

Na Revista Espírita, de maio de 1858, entretanto, Kardec entrevista o compositor Mozart (1756-1791), que foi famoso menino prodígio (aos 4 anos já tocava de cor e aos 5 já compôs), e que declarou “Quando estou em boas disposições e inteiramente só, durante o meu passeio, os pensamentos musicais me vêm com abundância. Ignoro donde procedem esses pensamentos e como me chegam; nisso não tenho a mínima vontade, a menor intervenção”. Habitante de Júpiter, revelou: “Onde habito, há melodia em toda parte: no murmúrio das águas, no ciciar das folhas, no canto dos ventos; as flores rumorejam e cantam; tudo produz sons melodiosos. Sê bom, alcança este planeta pelas tuas virtudes”. E fornece essa pérola para esse tema: A música religiosa ajuda a elevação da alma. O pensamento compõe e os ouvintes desfrutam. Claro que a história humana registrou a presença de grandes gênios da música em nosso planeta. Seria impossível relacioná-los todos num simples artigo, abordar suas conquistas e feitos, a genialidade que nos ofereceram. Optamos por Mozart, pois que presente na Revista Espírita.

E na mesma publicação, de maio de 1861, o Espírito Lamennais (brilhante escritor, figura influente e controvertida na história da igreja francesa e ordenado padre aos 34 anos) afirma: a música é a arte que vai mais direta ao coração.

Já na edição de janeiro de 1869, o mesmo Rossini afirma: para ser músico, não basta mais alinhar as notas sobre uma pauta, de maneira a conservar a justeza das relações musicais: assim só se produz ruídos agradáveis; mas é o sentimento que nasce sob a pena do verdadeiro artista. É ele que canta, que chora, que ri. Mas para dar alma à música, para fazê-la chorar, rir, uivar, é preciso em si mesmo ter sentido estes diferentes sentimentos de dores, de alegrias, de cólera.

E Kardec, com toda sua lucidez, também na Revista Espírita, exemplar de setembro de 1864, nos traz essa importante revelação: A música comove as fibras entorpecidas da sensibilidade e as predispõe a receber as impressões morais. A música amolece a alma – é poderosa auxiliar de moralização.

Nesta altura, como poderíamos esquecer os grandes nomes da música nacional e internacional? Vozes inesquecíveis, melodias extraordinárias, compositores, autores, intérpretes, conjuntos, maestros, letras e apresentações que marcaram época e conquistaram memórias em todos os tempos, em composições inesquecíveis e belíssimas.

Neste ponto, podemos buscar a questão 251 de O Livro dos Espíritos: Os Espíritos são sensíveis à música? E a resposta: Queres falar da vossa música? O que ela é diante da música celeste? Desta harmonia que nada sobre a Terra pode vos dar uma idéia? Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia. Entretanto, os Espíritos vulgares podem experimentar um certo prazer em ouvir a vossa música, porque não são ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem para os Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e de mais suave.

Tudo isso para pensarmos no esforço da espiritualidade em despertar nossa sensibilidade. Seja através da música religiosa – em corais, conjuntos ou valores individuais’ –, de qualquer denominação, seja pelas canções que marcam as crianças para sempre ou pelas melodias dos grandes gênios musicais de nossa história… Ou mesmo, e por que não, nas músicas contemporâneas e fruto do regionalismo, em todo o planeta?

É que a música é também um dos instrumentos de despertamento da sensibilidade humana. Existem vários, como a dor através da expiação; as provas através dos obstáculos; a fé como virtude, entre tantos outros. E entre eles, a música, para elevar nosso padrão vibratório e nos convidar a pensar na grandeza de Deus.

Ponderemos que estamos num mundo de provas e expiações, onde ainda há império do mal. E se, num plano de provas e expiações, já temos os sons magníficos da natureza, a voz humana que sensibiliza nos esforços e combinações vocais, e a presença das belas músicas que nos ajudam a viver com mais harmonia, podemos imaginar o que nos aguarda para o futuro?

Selecionemos, pois, as belas conquistas que já possuímos no campo desta arte maravilhosa que é a música, para elevarmos o padrão espiritual de nossos ambientes. Deixemo-nos comover pela mensagem que trazem; reflitamos nas motivações que ensejaram a concepção dessas peças que verdadeiramente nos comovem pela beleza e sublimidade. E, obviamente, prestemos também mais atenção no canto dos pássaros; no latido dos cães e sons característicos de outros animais; nos sons naturais de trovoadas, chuvas e ventos e mesmo na variedade das vozes humanas, para percebermos o quanto o som influencia nossa harmonia ou desarmonia interior. É, como em tudo, uma questão de seleção e afinidades. Aprendamos, pois, a selecionar…

*Gioacchino Antonio Rossini – Compositor italiano – 29-11-1792 – 13-11-1868

Nota do autor: As transcrições efetuadas nesta matéria foram de edições do Instituto de Difusão Espírita, com tradução de Salvador Gentille.

Matéria publicada originariamente na REVISTA INTERNACIONAL DE ESPIRITISMO, edição de dezembro de 2004.








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