25/02/2015

Diante Da Adversidade

A MELHOR DEFESA

Luiz Carlos D. Formiga 

DIANTE DA ADVERSIDADE... 
Nossa "humanidade,"
À revelia de nós,
É revelada!

Nossas Fragilidades
E nossas conquistas...
Emergem. Vêm à tona!

A Inteligência Espiritual reequilibra-nos...

O homem velho dá vez ao Homem de Bem! 

Juli Lima (*) 
NEU* - Enfrentamentos 

A MELHOR DEFESA 
 
Alguns pacientes de AIDS atravessam todo o processo da doença sem necessitarem da ajuda dos profissionais da Saúde Mental. No entanto, outros sentem ansiedade ou angústia aumentadas, o que origina reações diversas, como intensa tristeza, desesperança ou reações depressivas. O sentimento de culpa, o desânimo, a insônia, ou a eventual idéia de suicídio repercutem de tal forma que o sistema imunológico de defesa apresenta reações não menos depressivas. A apatia faz parte da evolução da doença, mas é possível encontrarmos distúrbios de memória, atenção ou de outras funções ligadas ao domínio cognitivo.
A negação, a revolta, a raiva.

"Por que eu? O laboratório deve estar errado. É muito azar! É castigo."  

Iremos encontrar aqueles tomados de sentimentos persecutórios, sentindo-se alvo de maldições ou coisas semelhantes. Estas são reações paranóides que, num ambiente acolhedor, tendem a ceder e posteriormente são trabalhadas de forma ambulatorial. 

Encontraremos os que adotam uma atitude arrogante, de indiferença ou mesmo de desprezo diante da própria enfermidade e do tratamento. É uma tendência à negação da realidade. São reações maníacas que muitas vezes necessitam da intervenção do médico psiquiatra.

Encontraremos ainda reações hipocondríacas, conversivas, ou as dissociativas, como, por exemplo, a amnésia, os estados crepusculares, ou ainda a personalidade múltipla que são reações histeriformes. Aqui o ponto principal é a perda da identidade. Essas últimas vão exigir a atuação médica especializada.

A doença é de tal ordem ameaçadora que existem quadros onde mais de uma entidade está participando. São os quadros clínicos psico-orgânicos, onde sintomas mentais podem vir acompanhados de problemas neurológicos. Há o comprometimento do nível de consciência. Isto introduz um agente complicador que obriga ao diagnóstico diferencial, entre manifestações emocionais, psiquiátricas e organo-cerebrais.

Há na AIDS a eclosão de reações psicológicas e/ou psiquiátricas, mas, se já não bastasse, é necessário considerar a própria característica do paciente que nos locais de atendimento público é predominantemente de baixa renda, sem trabalho fixo ou subempregado, embora jovem, do sexo masculino e anteriormente saudável. A metade dos pacientes é representada pelos toxicômanos, que é condição também predominante no sexo feminino, associada à prostituição. 

Num país que vive uma séria crise sócio-econômica, estas observações nos fazem pensar, além do aspecto puramente médico, nas condições de saúde e moradia dessas pessoas antes da contaminação. O fato da grande maioria, dos pacientes, pertencer a grupos com comportamentos de risco dificulta, ainda mais, as suas relações interpessoais. Nesse particular, difícil é a posição da Equipe de Saúde que, com neutralidade, tem que lidar com os valores e o estilo de vida escolhido pelo paciente, ao mesmo tempo que emprega todos os esforços na tentativa de restabelecer o seu estado de ânimo, a sua esperança no tratamento.

Nesta doença, os contactos iniciais com a equipe de saúde são repletos de desconfiança e de omissões de informação, pelo receio do uso que o profissional possa dela fazer. É por isso que nas entrevistas são sempre asseguradas a privacidade e o sigilo, para possibilitar uma relação de confiança, que permita ao paciente relatar particularidades de sua vida e de seus problemas pessoais. 

De modo geral os pacientes homossexuais evitam o contacto com a equipe de psicologia e os usuários de drogas são motivados por uma crédula solução mágica, que os ajude a largar o hábito. 

O resultado do exame.
Momento de crucial importância é aquele em que se tem que revelar o resultado do exame sorológico positivo. 

As experiências têm demonstrado que o médico deve ser franco quanto aos resultados dos exames e informar sobre todos os recursos de ajuda disponíveis. Embora alguns possam advogar que o paciente está sob forte sofrimento e despreparado para tal revelação, esta conduta coloca sob risco outros membros da comunidade e afasta o processo educativo, que leva ao compromisso de quebra da cadeia de transmissão.

A incerteza de seu futuro conduz à ansiedade ou angústia com manifestações de medo, revolta, impaciência, opressão toráxica, insônia, etc. Dificuldades no mundo exterior intensificam essas manifestações, não raro surgem as ameaças de transfiguração estética, temor da morte, do abandono, perda de emprego, etc. 

Reações psicológicas após a confirmação da suspeita.

De modo geral estes pacientes respondem com reações que se assemelham àquelas descritas por Kubler-Ross, para os pacientes referidos como terminais.

NEGAÇÃO - mecanismos de defesa protetores do ego. Existe a fantasia da não contaminação. Sendo assintomáticos, continuam a fazer uso de drogas e a realizar relações sexuais, sem uso de preservativos. Curandeiros podem ser procurados, assim como outros laboratórios para tentar, num novo exame, encontrar o resultado negativo.

REVOLTA - Culpando a família, o parceiro ou outro, questiona: "Por que eu?" 

A síndrome de vingança é extremamente rara, ficando apenas na ameaça verbal, quando em ambiente solidário. Imaturos emocionalmente os surpreendemos com a arrogância, o narcisismo, a onipotência tentando desafiar a realidade em atitudes de desprezo pela auto-preservação. Para outros, a doença aparece como um castigo, vindo exatamente no momento em que estavam se recuperando da vida desregrada que levavam. Passam então à fase seguinte conhecida como barganha ou negociação.

BARGANHA - é o momento das promessas. Duro é buscar voluntariamente tratamento para abandonar os tóxicos e não ser aceito por ser portador do vírus. Passa então à nova fase quando tenta resolver situações não resolvidas com as pessoas das suas relações.
INTERIORIZAÇÃO é a fase onde ainda não está preparado para aceitar a morte.

Na ACEITAÇÃO, última fase, faz o planejamento realístico para a morte, nesse momento já resolveu o que era possível no tempo disponível. Qualquer mudança na condição de saúde do paciente pode precipitar uma mudança de estágio que não é tão uniforme como acima apresentado. 

Reações familiares
Com pacientes toxicômanos e/ou homossexuais é muito freqüente a ausência de um dos pais, ou a presença de conflitos familiares anteriores ao diagnóstico. O estilo de vida do paciente era para eles desconhecido e por isso recebem duplo choque. É confirmada a fragilidade dos vínculos familiares ou em outras famílias a adaptação ao estilo de vida do paciente. 

Surge a necessidade de reestruturação da família. Mas, como se proteger sem abandoná-lo? Como evitar a rejeição social da família? Encontra-se também a superproteção e fatos são escondidos ou camuflados. A condição de vítima do paciente dificulta o seu amadurecimento emocional.

A ajuda à família omissa é de vital importância. Deve-se tirar dúvidas sobre a doença e dar apoio psicológico. Será que haverá vaga para uma nova internação? Reuniões individuais e grupais fazem parte desta programação.
Aspectos psico-imunológicos 

Numa doença que provoca tantas reações, fica clara a necessidade do diagnóstico diferencial entre manifestações emocionais, psiquiátricas e organo-cerebrais. Este fato nos remete também a outro domínio, que tem sido objeto de estudos recentes, o da influência dos fatores psicológicos na predisposição ou no curso de enfermidades orgânicas, principalmente aquelas ligadas ao sistema imune como infecções, doenças auto-imunes ou malignas.

Atualmente, é consensual admitir que o "stress" produz efeito imunossupressivo. Leucócitos, linfócitos são os soldados desse imenso exército de defesa do corpo humano, que são os primeiros a serem afetados por estados alterados psicológicos. O estudo em dois grupos de indivíduos mostrou que os angustiados mais deprimidos, tinham menor capacidade de reparação do DNA danificado, quando seus leucócitos eram expostos à irradiação de raios X.

Resultado que adiciona evidências sugestivas da influência de fatores psicológicos, é o descontrole apresentado diante do vírus Epstein-Barr da mononucleose infecciosa, que causa uma severa dor de garganta. Mulheres que estiveram passando pelo desconforto da separação conjugal e do divórcio possuíam níveis maiores de anticorpos anti-vírus Epstein-Barr. Por outro lado, os maridos de mulheres em estágio avançado de câncer de mama, após a viuvez apresentavam supressão significativa de linfócitos, com reflexos tanto na imunidade humoral (uma espécie de artilharia imunológica), quanto na imunidade celular (semelhante a uma infantaria mecanizada).

O estudo com estudantes de Medicina, em vésperas de exame, também tem demonstrado a influência dos fatores psicológicos na economia biológica. Os acadêmicos podem apresentar infecções respiratórias após os exames e mais uma vez vamos encontrar supressão dos linfócitos "killer" (células semelhantes a soldados treinados com técnicas marciais), o que também foi observado em indivíduos com auto-relato de solidão ou em pacientes internados que estiveram muito sozinhos neste período. Os estudantes também apresentaram baixos níveis de interleucina II (uma espécie de comunicação e incentivação do exército de células em combate ativo) e o descontrole diante de determinados vírus como o do Herpes e da Mononucleose.

É conhecida a ação dos corticosteróides como agentes imunossupressores. Os níveis de cortisona podem estar aumentados em pacientes internados solitários, que podem também apresentar diminuição da atividade dos linfócitos. 


Estamos diante de observações que nos fazem refletir sobre a Aids e a História da Medicina. Nunca uma doença foi tão rapidamente identificada e descrita com detalhes em seu aspecto etiológico. 

Nós, que estivemos nestes últimos 20 anos com o pires na mão diante das agências de financiamento de pesquisas, continuamos a manter a esperança nos imunologistas, nos pesquisadores da quimio-antibióticoterapia, nos engenheiros da Genética, mas não esquecemos daqueles que sempre foram relegados a um segundo plano, na chamada Política Científica, os professores, os educadores, os sociólogos, e os psicólogos, entre outros profissionais de inegável valor e importância nos dias que correm.

Um tratado de Psicoimunologia 

A melhor vacina continua sendo a informação que propicia mudança de comportamento. A Aids veio para ficar e testar também nossos valores ético-morais. Vencerá aquele que tiver melhor capacidade adaptativa as novas exigências, mas dependerá também do outro, que nesta hora por força das circunstâncias terá que ajudar. 

O desequilíbrio na relação "stress" - doença é desencadeado por situações diversas da vida individual ou social. Chegamos ao paradoxo de por egoísmo ter de que adotar comportamentos altruístas.

"O amor é irmão gêmeo da dor". O fator crítico que é a adaptação pode ser influenciado por experiências passadas, suporte social, características de personalidade e de defesa do ego, padrão de comportamento habitual, etc. A má adaptação às mudanças é o que parece provocar as alterações do sistema imune, que terminam no aparecimento de sinais e sintomas de doenças. 

Poucos estão alertados de que a boa adaptação envolve um problema de crescimento espiritual, e que o hormônio desse crescimento não tem origem na hipófise. Pena que só mais tarde muitos irão saber porque o Evangelho é o maior tratado de Psicoimunologia. 

  Quem viu Jesus doente? 

Capítulo do livro "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos", CELD-Editora.
 
Fonte: Artigo publicado originalmente no Jornal Espírita, FEESP, SP. Maio de 1992.http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1236.html

(Imagens - Google)


Publicado pelo A ERA DO ESPÍRITO com a autorização do autor. 

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